ENTENDENDO O CHATGPT

Escrito por Guilherme Melo de Morais

O Chat Generative Pre-Trained Transformer, em português, Transformador Pré-Treinado Generativo de Bate-papo (tradução livre), ou, simplesmente, ChatGPT, foi criado pela empresa OpenAI e pode ser descrito como um programa de Inteligência Artificial (“IA”), desenvolvido para interagir com o usuário por meio de diálogos baseados em questionamentos e apresentação de problemas.

O ChatGPT foi lançado em 30 de novembro de 2022 e, desde então, obteve repercussão, seja em decorrência do atingimento de 1 milhão de usuários em apenas 5 dias – façanha que a Apple demorou 74 dias para alcançar com o Iphone e o Facebook 10 meses para atingir – ou pelo fato de ser avaliada, conforme noticiado pelo The Wall Street Journal, em aproximadamente 29 bilhões de dólares[1].

O ChatGPT destacou-se, ainda, por sua utilização nos mais diversos setores da economia, tais como a obtenção de opiniões jurídicas, desenvolvimento de códigos de programação, criação de estratégias de marketing, criação de histórias em quadrinhos (texto) e roteiros de viagens, execução de traduções de diversos idiomas e a obtenção de opiniões sobre questões da área da saúde.

Alguns exemplos de situações que fizeram com o ChatGPT fosse destaque: (i) “ChatGPT consegue ser aprovada na OAB, das 80 perguntas 48 foram respondidas de forma correta”[2]; (ii) “Deputado estadual de Santa Catarina usa ChatGPT para criar projeto de lei”[3]; (iii) “Legislador do estado de Massachusetts, dos Estados Unidos, utilizou ChatGPT para auxiliar na criação de Lei que tem por objetivo regular os modelos de IA similares ao próprio ChatGPT”[4]; etc.

Testamos o ChatGPT e pedimos para que ele se definisse, vejamos esta definição:

“O ChatGPT é um modelo de linguagem natural desenvolvido pela OpenAI, uma das empresas líderes em inteligência artificial no mundo. O ChatGPT foi treinado em uma enorme quantidade de dados em linguagem natural, o que lhe permite compreender e gerar respostas a uma ampla gama de perguntas e solicitações.

O ChatGPT é capaz de responder perguntas sobre diversos temas, desde ciência e tecnologia até direito, saúde, educação, entre outros. Ele utiliza uma abordagem de aprendizado de máquina para entender a intenção do usuário e gerar respostas relevantes e precisas.

Além disso, o ChatGPT é capaz de aprender e evoluir continuamente, à medida que é alimentado com mais dados e interage com mais usuários. Isso significa que, com o tempo, o ChatGPT pode se tornar ainda mais preciso e eficiente em suas respostas.

O ChatGPT é uma ferramenta útil e versátil para pessoas que buscam informações e respostas para suas dúvidas em diversas áreas. No entanto, é importante ressaltar que, embora o ChatGPT seja capaz de fornecer informações precisas e confiáveis, ele não substitui a orientação e aconselhamento de profissionais especializados em cada área.”

Da definição apresentada pelo próprio ChatGPT pode-se perceber que o sistema se utiliza da base informações fornecidas pelos próprios usuários, pautando-se no Machine Learning – ciência que busca capacitar as máquinas a desenvolverem tarefas para as quais não foram programadas – e no Deep Learning – algoritmo mais sofisticado de machine learning que imita a rede neural do cérebro humano, capacitando as máquinas para reconhecer imagens e fala, processar a linguagem natural e realizar tarefas avançadas sem a interferência humana.

Apesar do avanço apresentado pelo ChatGPT, se torna relevante observar que as respostas e informações por ele fornecidas não podem ser tomadas como verdades absolutas, pois é possível que o próprio sistema ofereça argumentos que não façam sentido diante da situação fática ou pelo fato de que o próprio sistema pode fabricar nome de fontes, citações diretas etc.

É possível inferir, então, que o ChatGPT pode gerar as famosas “Fake News”, bem como pode compartilhar informações que são protegidas por direito autoral ou, ainda, que envolvam marcas, patentes e registros de programas de computadores.

Por mais que o sistema possa apresentar respostas que pareçam razoáveis, não se deve dispensar a necessidade de confirmação das respostas e informações fornecidas por outros meios.

O próprio ChatGPT reconhece em seu website que pode apresentar e reproduzir, mesmo que de forma sutil, conteúdos que perpetuem preconceitos e estereótipos nocivos, pois seu modelo de informações é inclinado a refletir perspectivas de pessoas ocidentais e apresenta melhor desempenho quando utilizado em inglês.

Além das questões relacionadas às tendências quando da interpretação das situações, o treinamento do sistema foi interrompido em 2021, razão pela qual não apresente evoluções relacionadas às tendências atuais.

Em relação ao tratamento de dados, considerando a aplicação do Machine Learning e do Deep Learning, o compartilhamento pelo usuário de informações confidenciais/sigilosas com o ChatGPT pode ser replicada para terceiros de forma indevida em função de falhas de segurança no tratamento da informação.

Empresas como JP Morgan Chase and Co., Verizon, Citigroup e Goldman Sachs determinaram a proibição do uso do ChatGPT[5] e de sistemas de IA similares por seus empregados, tendo em vista o risco apresentado pelo uso do ChatGPT, em especial quanto as informações confidenciais de cada uma.

O ChatGPT, ou os sistemas de IA do Google (Brad) e da Microsoft (Sidney), são grandes evoluções tecnológicas que vieram para melhorar e facilitar nosso dia a dia, todavia, ainda apresentam riscos para seus usuários, seja quanto a confiabilidade das respostas seja em função do compartilhamento indevidos de informações classificadas como confidenciais ou de autoria de terceiros. Por estas razões a IA não consegue substituir os profissionais especializados em cada uma das áreas do conhecimento, não devendo ser utilizada de forma irrestrita e para qualquer fim.

Hoje existem diversas discussões a respeito do tema em todo o mundo, sendo certo que no Brasil temos o Projeto de Lei nº 872 de 2021, em trâmite no Senado, que visa regular o uso da IA.

A Equipe de Negócios Digitais, Tecnologia e Proteção de Dados do PLC Advogados coloca-se à disposição para esclarecimentos e providências que se fizerem necessários relativos ao tema tratado neste informativo.

Fontes:

[1] BERBER, Jin; MILES, Kruppa. ChatGPT Creator Is Talking to Investors About Selling Shares at $29 Billion Valuation. The Wall Street Journal, 2023. Disponível em: https://www.wsj.com/articles/chatgpt-creator-openai-is-in-talks-for-tender-offer-that-would-value-it-at-29-billion-11672949279

[2] Inteligência artificial consegue ser “aprovada” na 1ª fase da OAB. Correio Braziliense, 2023. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/ensino-superior/2023/02/5075480-inteligencia-artificial-consegue-ser-aprovada-na-1-fase-da-oab.html

[3] CALDAS, Joana. Deputado usa ChatGPT para texto de lei protocolada em SC. Globo, 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2023/03/02/projeto-de-lei-feito-por-chatgpt-e-protocolado-na-assembleia-legislativa-de-sc.ghtml

[4] ANNEAR, Steve. Two elected officials drafted legislation to regulate artificial intelligence technology – with some help from ChatGPT. Boston Globe, 2023. Disponível em: https://www.bostonglobe.com/2023/01/24/metro/this-state-senator-drafted-legislation-regulate-artificial-intelligence-technology-with-some-help-chatgpt/

[5] JPMorgan Chase, Verizon, Citigroup, and Goldman Sachs Block Access to ChatGPT. IBL News, 2023. Disponível em: https://iblnews.org/jpmorgan-chase-and-verizon-block-access-to-chatgpt/